terça-feira, 29 de julho de 2008

Kid Vinil - O Velho Rockeiro...

Ele já foi "boy", já teve "tic-tic nervoso" e hoje é um profundo conhecedor do rock. Sua trajetória se confunde com a história do gênero no Brasil, pois ambos sempre andaram lado a lado. Fã de música desde muito jovem, foi aos 18 anos que Antônio Carlos Senefonte, mais conhecido como Kid Vinil, ingressou nesse mundo e nunca mais quis saber de trabalhar em outra área que não fosse a música. Mais especificamente, com rock. Ele já fez TV, rádio, já escreveu para grandes jornais do País e está prestes a lançar o "Almanaque do Rock" (Editora Ediouro). E ninguém melhor para falar sobre o Dia Mundial do Rock, comemorado em 13 de julho, do que ele, que além de conhecer tão bem esse estilo musical, ajudou a construir a história do rock no Brasil.
Em entrevista exclusiva ao Jornal Carreira & Sucesso, Kid Vinil conta um pouco da sua trajetória musical, detalha a história do Dia Mundial do Rock e diz como esse ritmo conquistou o Brasil e o mundo.
Jornal Carreira & Sucesso: Conte um pouco da sua carreira.
Kid Vinil: Praticamente, eu mexo com música desde criança. Eu vim de uma família que não tinha músicos, mas que gostava de música. E desde o colégio comecei a montar conjuntinhos na escola, com os amigos, e já era uma pessoa que gostava de comprar discos, interessava-me por música e já tinha na cabeça que um dia trabalharia com música. E, de fato, o meu primeiro trabalho foi numa gravadora, a Continental. Eu estava perto dos meus 18 anos e ali as coisas começaram a acontecer pra mim. Eu comecei também a fazer outras coisas. Eu fazia Jornalismo, Rádio e TV e queria trabalhar em rádio. Então, algumas pessoas me apresentaram numa rádio, fiz o teste como locutor, fui aprovado e comecei a trabalhar em rádio também. Eu sempre gostei de rádio, gostava de Jornalismo, de música. Enfim, tudo tinha muito a ver. A partir daí veio praticamente o início dos anos 80 e aí as oportunidades começaram a acontecer. Eu já tinha uma banda formada, já trabalhava numa gravadora e em 1983 essa banda veio acontecer, que foi o Magazine. Fizemos sucesso e gravamos. Mas, paralelo a isso, eu continuei fazendo programas de rádio. Aí veio a oportunidade de escrever: nos anos 80, eu escrevi para a Folha, para o Estadão, fazia matérias de música. No final da década de 80, veio a oportunidade de trabalhar na televisão: fiz o Som Pop e o Boca Livre, que eram da TV Cultura, e continuei meio que nessa trajetória de música, gravadora. Nos anos 90, eu trabalhei na Eldorado, depois trabalhei na Trama, aí apresentei o Lado B, da MTV. Também continuei trabalhando em rádio. Passei pela 89, pela 97, pela Mix, pela Brasil 2000, que foi a experiência mais recente com rádio. Hoje, faço atividades como DJ, faço festas também, além de ainda trabalhar com a banda, fazer shows, esses "revivals" de anos 80. Enfim, de tudo um pouco. Eu sempre trabalhei ligado à música, então minha trajetória sempre foi relacionada à música.
Jornal Carreira & Sucesso: De tudo isso, o que você gosta mais?
Kid Vinil: Acho que tudo que tem uma relação com música. Não dá para dizer que a banda é mais, porque eu gosto de trabalhar com a banda, sempre tive banda desde moleque. Mas gosto de trabalhar com rádio também, porque sempre trabalhei com rádio. Gosto de escrever também, porque sempre gostei de fazer. Acho que é uma união de todas essas coisas, não dá para dizer só isso, porque eu não faço só uma coisa. Isso que é legal: trabalhar em varias áreas, em varias fontes relacionadas à música. É legal porque você acaba tendo prazer em fazer várias coisas.
Jornal Carreira & Sucesso: O que o rock representa para você?
Kid Vinil: Eu gosto disso desde criança. Para mim, acabou virando um modo de vida até. A música que eu respiro é essa. Às vezes, conheço alguma coisa de música brasileira, ou gosto de alguma coisa de blues ou de jazz, mas a minha especialidade sempre foi o rock. Jornal Carreira & Sucesso: Por que 13 de julho é o Dia Mundial do Rock? Kid Vinil: Eu lembro que isso foi na década de 80, aconteceu o Live Aid, que era um concerto de ajuda aos países pobres, África. Enfim, um concerto muito grande. Teve na Europa, teve uma edição americana ao mesmo tempo. Foi transmitido pelo mundo inteiro e eu lembro que o Phill Collins, que era do Gênesis, quando estava terminando o show, falou "Olha, a gente gostaria de dizer que esse dia é um dia tão importante que poderíamos fazer do dia 13 de julho o Dia Mundial do Rock". E aí acabaram abraçando a causa como o Dia Mundial do Rock, como um marco na história do Rock.
Jornal Carreira & Sucesso: O que o rock representou para a história da música? E o que ele representa hoje? Kid Vinil: Eu acho que dentro de um movimento de jovens, desde o início da década de 50, o rock sempre foi uma manifestação, um tipo de música que identificava uma geração e acabou passando de geração para geração. É interessante que o rock já tem mais de 50 anos de idade e ele sempre se renovou. É diferente do jazz - que sempre foi uma tradição - ou do blues, o rock sempre é uma linguagem nova, é uma maneira de o jovem expressar sentimentos, poesias, modo de vida. Enfim, uma série de relações com o dia-a-dia das pessoas. É um tipo de música que trabalha com o dia-a-dia de uma juventude. Na verdade, o rock sempre representou uma geração, e eu acho que ninguém vai inventar um outro tipo de música que possa representar o jovem dessa forma.
Jornal Carreira & Sucesso: O que você acha do rock que é feito hoje?
Kid Vinil: Eu gosto de muita coisa, eu sempre achei legal. A garotada sempre tem idéias novas, sempre tem essa coisa de misturar o rock com música eletrônica, ou mesmo recriar certas coisas. Eu acho que sempre tem uma razão de ser. e isso é legal. É uma garotada esforçada. Assim como eles, eu já fui jovem, existe uma relação musical muito forte. Cada um tem uma vontade de fazer, de criar, de acontecer, e acho que a cada geração isso acontece. O rock que se faz hoje não é o mesmo rock dos anos 70, 80 ou 50. Eles têm a cara do novo rock, todo jovem quer fazer do jeito que ele acha que tem de ser feito, isso que acho que muda, que dá uma cara nova no rock. Acho que o rock moderno tem suas qualidades também. O rock não envelhece, ele sempre tem uma cara nova. Sempre tem alguém fazendo alguma coisa nova.
Jornal Carreira & Sucesso: Como o rock influenciou a sociedade e como a sociedade influenciou o rock?
Kid Vinil: Essa coisa de comportamento, de política. O rock sempre teve esse envolvimento em vários setores da sociedade. Ele tem uma manifestação política quando quer ser político, ele fala de comportamento quando ele quer falar de comportamento, ele pode ser bem-humorado quando ele quer ser bem-humorado. Eu acho que o rock tem essa liberdade de trabalhar tudo isso. No rock você vê um retrato de uma época. Jornal Carreira & Sucesso: Muitas vezes, e isso já acontece desde os anos 70, fala-se que "o rock está morto". Você concorda com isso? Acha que isso é possível? Kid Vinil: Isso é uma bobagem. A gente vê tudo que está acontecendo, tudo que o jovem está fazendo e a gente vê que não morreu. Tudo bem, no Brasil a gente tem música brasileira, tem axé, tem funk, tem todas as tendências populares, mas tem o rock também e ele continua acontecendo. Jornal Carreira & Sucesso: E o rock no Brasil? Como ele nasceu? Quais foram suas influências principais?
Kid Vinil: O rock brasileiro começou influenciado pelos anos 50, por Elvis [Presley], Chuck Berry, enfim, por toda aquela geração do rock que vinha fazendo isso lá fora. Acho que o interessante no rock brasileiro é que quando ele começou alguns gravavam em inglês, mas logo em seguida já começaram a gravar em português, já faziam versões de músicas lá de fora. Aí veio a Jovem Guarda e o rock teve uma identidade maior com ela, com o Roberto [Carlos], Erasmo [Carlos], Os Incríveis. Então, o rock brasileiro começou ter uma cara, uma identidade, ele era cantado em português, ele falava do dia-a-dia das pessoas - isso foi muito legal para o rock brasileiro. O Brasil também começou criar uma identidade. Aí vieram os fãs de Beatles, como Renato e Seus Blue Caps, que faziam versões. Veio também a Tropicália, os Mutantes, que era uma adaptação perfeita do rock feito lá fora, com as coisas da música brasileira. Eles fizeram uma criação, uma coisa interessante - acho que foi a banda mais criativa do rock brasileiro. Depois veio o Raul Seixas, que também conseguiu misturar a coisa da música nordestina, do baião, do xaxado com o rock, fazendo um casamento interessante. Então, o rock já tinha uma cara, o rock brasileiro passou a ter uma cara a partir disso.
Jornal Carreira & Sucesso: Quais bandas são fundamentais para quem quer conhecer melhor o rock?
Kid Vinil: Os Mutantes, o Raul Seixas, a carreira da Rita Lee desde o início. E nos anos 80, a gente tem uma série de bandas, tipo Paralamas do Sucesso, Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana. Hoje a gente tem Charlie Brown, Pato Fu, Los Hermanos, bandas novas que fazem uma nova geração do rock. E de fora, Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, Pink Floyd, U2. Tem muita coisa importante dentro do rock.

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