terça-feira, 5 de agosto de 2008

MAKTUB POR PAULO C0ELHO...

DO RETORNO...Os laços de amor criam uma relação mais forte do que supomos. J. Rhine e Sara Feather, do Laboratório de Parapsicologia da Universidade de Duke, coleccionaram uma série de casos sobre as mais diversas manifestações desta relação - inclusive com os animais. Eis um destes casos:Um rapaz, Hugh Brady, costumava cuidar dos pombos que viviam perto de sua casa. Certa vez, encontrou uma destas aves feridas; curou-a, alimentou-a, e colocou na pata direita uma etiqueta com o número 167. No inverno seguinte, Hugh teve que ser operado de emergência. Enquanto se recuperava, num hospital longe de sua casa, escutou algo batendo na janela. Pediu a enfermeira que abrisse; um pombo entrou voando pelo quarto adentro, e pousou no peito do rapaz.Na pata direita estava a etiqueta com o número 167.


DE SALOMÃO...Se você acha que apenas você está sofrendo, ou amando, ou desesperado, ou apavorado - enfim, se você acha que tudo de bom ou de mal na vida só acontece com você, relembre Salomão:"Geração vai e geração vem, mas a Terra permanece sempre a mesma. Levanta-se o Sol, e põe-se o Sol, e volta ao seu lugar, e nasce de novo(...) O que foi, é o que há de ser; o que se fez, isso se tornará a fazer. Não há nada de novo debaixo do Sol".Salomão dizia isto a 3.000 anos atrás - mas não para fazer com que nos sentíssemos inúteis ou repetitivos. Sua intenção era mostrar-nos que, em nenhum momento, estamos sozinhos. Se Deus fez com que todas as gerações anteriores encontrassem seu rumo, fará a mesma coisa por cada um de nós. Afinal, Ele tem milénios de experiência com nossos problemas.


DOS DEFEITOS...Gilberto de Nucci tem uma excelente imagem a respeito de nosso comportamento. Segundo ele, os homens caminham pela face da Terra em fila indiana, cada um carregando uma sacola na frente e outra atrás. Na sacola da frente, nós colocamos as nossas qualidades. Na sacola de trás, guardamos todos os nossos defeitos. Por isso, durante a jornada pela vida, mantemos os olhos fixos nas virtudes que possuímos, presas em nosso peito. Ao mesmo tempo, reparamos impiedosamente, nas costas do companheiro que está adiante, todos os defeitos que ele possui.E nos julgamos melhores que ele - sem perceber que a pessoa andando atrás de nós, está pensando a mesma coisa a nosso respeito.


DE PAPAI NOEL...Joseph Campbell nos diz: "o primeiro choque do homem moderno com o mundo mágico acontece quando ele descobre que Papai Noel não existe".Campbell, um dos maiores estudiosos de mitologia de nossos tempos, não estava brincando. Quando nos damos conta que toda a fantasia criada em torno dos presentes de Natal era apenas fruto de uma tradição, achamos que todas as tradições são iguais. Se Papai Noel não existe, é possível que não exista Deus, Anjo da Guarda, Vida após a Morte. Com medo de nova desilusão, empobrecemos nosso mundo, e desconfiamos de qualquer milagre. Não somos mais crianças. Podemos conviver com as decepções inerentes ao próprio caminho espiritual - aliás, este é um caminho cheio de decepções. Mas, quem persistir, chega lá.


DO MERCADO...O filósofo Sócrates, que provocou uma verdadeira revolução no pensamento humano (e por causa disto acabou condenado a morte), era sempre visto passeando pelo mercado principal da cidade.Certo dia, um dos seus discípulos perguntou: "Mestre, aprendemos com o senhor que todo sábio leva uma vida simples. O senhor não tem nem mesmo um par de sapatos." "Correcto", respondeu Sócrates. O discípulo continuou: "entretanto, todos os dias o vemos no mercado principal, admirando as mercadorias. Será que podíamos juntar dinheiro para que possa comprar algo?" "Tenho tudo que desejo", respondeu Sócrates. "Mas adoro ir ao mercado, para descobrir que continuo completamente feliz sem aquele amontoado de coisas!"


DE SE PERDER...Marcelo, marido de uma produtora de televisão, estava perdido em Los Angeles, Califórnia. Durante horas vagou sem rumo, e, já tarde da noite, terminou entrando numa área perigosa. Percebendo o ambiente à sua volta, ficou nervoso e resolveu tocar a campainha de uma casa com luz acesa. Um homem de pijama atendeu. Marcelo explicou a situação e pediu que chamasse um táxi. Ao invés de fazer isto, o homem vestiu-se, tirou o carro da garagem, e foi levá-lo até ao hotel.No caminho, explicou: "há cinco anos atrás, estive no Brasil. Certa noite, perdi-me em São Paulo. Eu não falava uma palavra de português, mas um rapaz brasileiro terminou por entender o que eu queria, e levou-me até ao hotel. Hoje, Deus permitiu-me saldar esta dívida".


DE COMO ERA...Jesus deve ter pensado muito bem em suas atitudes. Sabia que elas seriam comentadas pelos séculos vindouros, e precisava dar o exemplo.Seu primeiro milagre? Não foi curar um cego, fazer um coxo andar, exorcizar um demônio: mas transformar água em vinho, e animar a festa.Seus companheiros? Não foram os que comandavam a cultura e a religião da época; mas homens comuns, que viviam de seu trabalho.Suas companheiras? Não eram como Marta, que fazia aplicadamente a tarefa doméstica; mas como Maria, que o seguia com liberdade.O primeiro Santo? Não foi um apóstolo, nem discípulo, nem um fiel seguidor; mas o ladrão que morria ao seu lado.O sucessor? Não foi aquele que mais se aplicou em aprender seus ensinamentos; mas quem o negou no momento em que mais precisava de ajuda.Enfim, nada do que mandava o manual do bom comportamento.


DA FÉ...Muitas pessoas dizem: "sigo a minha religião individual". Que bobagem! O Caminho é individual. Mas ele não existe sem a devoção colectiva - seja católica, protestante, judia, islâmica, etc.Anthony Mello, é autor de excelentes livros, com histórias de diversas tradições. Na dedicatória de um deles, sintetiza, com rara beleza, a importância da religião: "Não posso esconder dos leitores a minha condição de sacerdote católico. Peregrinei por bom tempo, e livremente, por tradições não-cristãs, e até mesmo não-religiosas. Elas enriqueceram-me, e exerceram grande influência na minha maneira de pensar. A Igreja, porém, é meu lar espiritual. Tenho noção das suas limitações, e até mesmo de sua estreiteza ocasional - o que me deixa embaraçado. Mas isto nunca irá destruir o facto de que foi ela que me formou, me moldou, e fez de mim o que sou".Pratique sua religião, seja ela qual for. Todos nós precisamos de um lar espiritual.


DA GAIVOTA...Estava num pier em San Diego, Califórnia, conversando com uma mulher da Tradição da Lua - um tipo de aprendizado feminino que trabalha em harmonia com as forças da natureza.- "Quer tocar numa gaivota?", perguntou ela olhando as aves na amurada do pier.Claro que sim. Mas sempre que me aproximava, elas voavam.- "Procure sentir amor por ela. Depois, faça este amor jorrar do seu peito como um feixe de luz, atingindo o peito da gaivota. E aproxime-se com calma".Fiz o que ela mandou. Duas vezes não consegui nada, mas na terceira - como se eu tivesse entrado em "transe", consegui tocar a gaivota. Repeti o "transe", com o mesmo resultado positivo.Conto aqui a experiência, para quem quiser tentar. "O amor cria pontes em lugares que parecem impossíveis", diz a minha amiga feiticeira.


DO PERDÃO..."A sociedade consegue perdoar o criminoso, e jamais perdoa o sonhador" diz Oscar Wilde. Mas a lei Universal obriga-nos a sonhar. É importante estar sempre pensando nisto.Não devíamos nunca perguntar ao outro: "o que você faz na vida?" A pergunta de uma pessoa sensível é: "você está sendo fiel aos seus sonhos?"Ao dizer isto, colocamos no ar a responsabilidade de uma resposta. Obrigamos o outro a reflectir sobre a importância de seus movimentos. Forçamos uma pausa na confusão quotidiana, e encaramos de frente a existência. Ao perguntar, também precisamos responder.Somos uma manifestação do pensamento de Deus. Ele espera que a nossa vida seja digna disso.

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